Pular para o conteúdo principal

Uma carta para Brenda.



Filha, eu nunca pensei no desespero que tu pudeste ter quando aquilo acontecia, eu nunca imaginava, sendo sua progenitora, choro e me deixo em mar de angustias e arrependimentos por não ter te olhado com mais atenção.  Quero te pedir perdão, mas realmente não sei se será possível te ouvir a tempo, por isso escrevo. Ao tempo que escrevo esta carta, de modo a ser como as marés, eu vou e volto, balanço e vós firmais em lagoa, estou te deixando! Mas, apesar disto, deixo para você todos os bens que conseguir durante a vida, deixo a minha bíblia, a qual faz tempos que a deixei de ler, deixo o meu primeiro vestido branco, o de casamento, deixo agora também, a senha do cofre, espero que abra, e se possível, leve contigo tudo que de dentro dele você conseguir aguentar pegar, leve de uma única vez, jamais volte para aquela casa para buscar qualquer outra coisa que aqui eu não descrevi. Ah, filha! Saudades és o que sinto, e as lagrimas que deixam escondidas meus olhos, até que eu poderia sorrir, mas já não tenho mais as forças necessárias para tal feito. Quero te fazeres um pedido, cuida bem do teu irmão, leva ele contigo para este lugar que tu queres ir, não sei onde és, mas ainda quero te ver, e de tanta vontade, faço o que você está vendo sobre esta carta, tive que morrer. Mas aqui não são as palavras de alguém morto, são palavras de alguém que está com tanta saudade e dor, que sente que o perdão não será o suficiente, mas que pelo menos desta forma, tu consigas me ver mais uma vez. Eu não sou vidente nem feiticeira, mas imaginei onde tu pudeste está, imaginei os caminhos que te trariam até mim novamente, então, escrevi esta carta, e se você a encontrou, posso partir em paz, pois assim eu sei, que também de mim não esqueceu. Filha! Perdão, filha! A hora está em seu ritmo, mas eu estou acelerando a vinda, a querida ceifadora estarás ao meu lado a qualquer momento. Mas antes da vossa total despedida, peço-te, leva consigo o teu irmão, leva! Cuida. Der carinho. Ofereça-te como poço de amor, algo que talvez eu nunca fui para ti, mas te faço este pedido. A senha do cofre é a palavra que mais me deu alegria e carinho, algo que penso nunca ter consigo retribuir, é um nome especial, salve a senha e queime esta carta. A senha é o maior amor que senti, as melhores alegrias, as melhores cumplicidades, era a felicidade e eu não a imaginava. Com muitas dores de amor, perdão e culpa, a senha é algo que te peço todos os dias em lagrimas, perdaobrenda. 

                                                                                                                                 Jameson Brandão

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dia de São Berto Lameu (conto)

Jameson Brandão Era um dia santo, e tudo começara em uma sexta feira. O vento e o barulho da floresta se manifestavam e se mostrara vivos, mas o dia era santo, a noite também. Ao cair da tarde, o crepúsculo manifestara-se de forma abstrata, o vento não era o mesmo, a floresta também mudara. Um senhor muito supersticioso que tinha por volta de seus setenta anos, na roça se encontrara, se quer lembrara-se desse dia, mas não estava sozinho, fora com seu companheiro Boca-Preta, o amigo cão inseparável de suas viagens. Ele dentro do barraco tomara seu café e se preparara para repousar, o dia no campo é difícil, o trabalho é pesado e o sol é quem mais castiga o trabalhador. Foi quando do lado de fora da casa um trovejo se formara, o cachorro tinha acuado um saruê. O animal encontrara-se em cima de um pequeno mamoeiro de nada mais além do que um metro, quando escutara o trovejo saíra armado com um facão, fora em direção e vira o animal, tentara o acertar, espanara com o fa

Itaberaba em poesia

Jameson Brandão Sou uma pequena menina Nascida, criada pelo Paraguaçu, Os braços da chapada me abraçaram Como me abraça tu. Vou te falar como tudo começou Desde a vinda do tal conquistador Até a igreja de Nosso Sinhô. Diziam que ninguém estava ali, Mas sabe atrás das grandes rochas? Vivia um povo artista Eram os índios Maracás, Do povo Tapuias. E para surgir a Itaberaba Um dia foi fazenda Lembramo-nos de Cajado, Que fundou a São Simão Na caatinga do nosso sertão. Mas pensa que acabou por ai? Depois foi só crescimento Veio à pequena igrejinha Que podia ser até um convento. Se tudo está crescendo, Lembramo-nos do rosário, Foi construída ao centro forte, Senda ela força e grave Tornou-se uma vila Que de tão bonita, Tornava-se poesia. Mas e dom Vasco Rodrigues? Sabe-se lá para onde ia? Mas deixou conosco pertinho, Os caminhos de tal folia. E o tempo foi acelerando Pessoas por aqui passando, Tudo de ma

Semana de Cultura Itaberabense: Escola Municipal Carlos Spínola da Cunha

"A reciproca foi imensa, obrigado" Somos todos cavaleiros que procuramos a todo o momento estar sempre unido a criatura, somos garças sobre a água, somos todos águas que jamais retornaram a sua devida morada. Durante a Semana de Cultura Itaberabense, fui convidado a estar escrevendo alguns poemas para serem declamados pelos alunos da  Escola Municipal Carlos Spínola da Cunha, no povoado de Guaribas, fiquei muito lisonjeado pelo convite e escrevi alguns poemas exclusivamente para esse evento, convite esse, que só tenho a agradecer a Jamile Oliveira  por ter me proporcionado ter vivido uma reciprocidade imensa naquele lugar. Saio desse lugar esbaldado de bons frutos, pela alegria, carinho e a simplicidade em que me receberam. Agradeço também a toda direção, coordenação, professores, merendeiras... todos, porque é somente quando nos unimos é que somos capazes de surpreender e ser surpreendidos, a filosofia da vida não é única, mas pode ser sintetizada em partes como um