-Por favor, senhor! Abaixe essa arma! Nós não
fizemos nada!
E é assim que se começa essa história. Não é algo
tão bonito de se contar, mas tudo começa desta forma.
Estou a pensar, agora mesmo enquanto você ler essas
palavras, se o amor de mãe fosse mortal, certamente não mais existiriam. No
entanto, e enquanto ao filho? O quão será que seu amor poderia salva-la se de
um lado enxergo uma faca encostada ao seu pescoço, ao mesmo tempo em que ao
filho está com uma arma sendo apontada para sua cabeça.
Uma resposta pareceria difícil, então, o que posso
fazer? O que você pode fazer? Qual escolha melhor se aplica? Um filho pela mãe,
ou uma mãe pelo filho?
Quer a verdade? Isso é algo que só a vida
responderia, o tempo até, mas talvez. Então, onde estaria a resposta para tudo
isso?
Mas espere um pouco! Antes de responder, levantar
hipóteses e tudo mais, quero lhe contar uma pequena historinha, depois você
responde, para qual lado o Sr. Morte deve ser misericordioso.
Em meio à correria do cotidiano, encontrei uma
família que me chamou a atenção por algum motivo que pretendo ainda descobrir.
É uma família bem estruturada, compra tudo, menos o pão. Se já é difícil viver,
imagina sozinho. Quem poderia ajudar a modernidade, as suas famílias e seus
tropeços? Realmente é algo supérfluo
quando coloco ajuda primeiro que a vida. Porque não haveria ajuda se não houver
primeiro a vida, e foi nesse pensamento que comecei a pensar sobre uma família,
mas era somente uma mesmo. Uma.
Essa família, ou melhor, especificando, essa mãe e
esse filho, tinham algo em comum, não era somente a ligação que um fazia do
coração do outro, era algo muito mais recíproco. Era um laço que raramente vi,
mas existiria um porém, nessa ligação, o quanto de amor existia para que os
olhos de ambos não se descarrilhassem do governo dos trilhos de linha reta?
Será que o marfim e o ouro abalariam as muralhas, imagino como as muralhas de
Jericó, será que seriam assim? Inabaláveis? Ou quebráveis?
De toda forma, esse não é o ponto que quero que
pensem, mas sim, pense no tipo de amor que seria entre eles? E mais, quero que
justifique sua resposta com uma outra questão, e se esse amor for tão grande
assim, será que um se sacrificaria pelo outro? Ou será que mesmo com isso, os
dois quereria viver e mataria o outro jogando-os na boca ou na cova dos leões
como caiu um profeta a ser traído?
Porque deixa eu te falar algo, existe um grande amor
reciproco, mas será que a vida de um é a cadeia do outro? A liberdade não é
melhor para um de nós? Porque na verdade um, vive preso ao outro, em futuro,
digo que vivia.
Estava mais do que na hora de acabar, era uma
ligação que prendia como correntes ao topo de um precipício. Estava muito pesada para que qualquer um
deles pudesse carregar, então, certa noite algo mudou na cabeça de um deles,
sentia-se aprisionado ao extremo, era uma liberdade dada pelo outro que causava
agonia, desconfiança, e o mais cruel de todos, uma prisão cheia de corações, espinhos
e garranchos como dias de lua preta, em que o mundo fica cego, e as arvores é
quem fala aos ouvidos dos mudos e cegos por elas.
O que resulta em amor reciproco moldado ao calo da
liberdade? Se vivesse harmoniosamente o meu lado claro, viveria, mas como as
sombras me chamam e cobre-me com seu manto de perolas e riquezas divinas, eu
vou correr seguindo esta estrada.
Já estava tarde, o violino tocava sua musica
fúnebre, as que eu mais gosto, até voava deleitando-me em um manancial
espiritual ao som tocante e profundo ao espirito desse instrumento. E a cada
vibração das notas eu sentia o meu coração estourar, palpitar e ou chorar. E
chorava.
Na casa não havia pão, ninguém come. Mas se fosse
para viver buscando os cacos do que se quebrou, rasgaria o tecido do templo e
buscaria o sal da minha vida.
Continuava tarde, o violino que tocava no ritmo
fúnebre, avisava, acariciava as minhas pegadas. Eu já sabendo de tudo que se
passava, me calava. Liguei o som de casa com apenas um intuito, o de oferecer
dignidade em uma morte rápida e em um velório.
Como estava tarde, pensava-se que a vida reinaria
nos sabores madruganos, mas era tudo fabulas e lendas, estava tudo perdido,
acabado.
Abri a porta de casa, retirei o cadeado do portão,
escancarei tudo, os movimentos que as portas e portões fizeram, foram do jeito
que eu sempre sonhei, as suas duas partes batiam e soavam como liberdade, então
saí correndo da residência, na verdade ele saiu voando da sua personalidade,
gritava algo na rua, acho que era voltado a umas flores nos bosques, próximo de
um “condomínio branco de cruzes e flores”
de forma que parecia suicida, uma pessoa sem base, sem medo ou com
excessos dele.
Mas será que algo importa? O que realmente importa?
Onde estava a mãe na hora de servir o pão, e onde estava o filho na hora de
comer com ela? Ah, essas coisas são complicadas demais, ela tinha o pão, ele a
fome, ela servia, mas ele não se sentava para comer, cadê? Quem está errado?
Mas com tudo isso você talvez se pergunte, onde está
a reciprocidade? Está no amor? Ai é que eu te digo, está tudo muito mais além
do espelho da mocidade e ou das sombras da idade, está tudo além, tanto além
que por inúmeras vezes me perguntei o que seria, e ele ficava em duvidas, sem
ao certo poder algo supor, relatar e ou se defender. Mas de toda forma eu estou
ao lado do filho, ele é um renegado, e ela, bruxa das historinhas infantis se
constituindo em matéria e absorvendo o meu eu espiritual e puro.
Quem merece viver? Quem? Fala logo o que tu pensa,
ela o matou sentimentalmente com a prisão da liberdade e de um falso amor
reciproco, era tudo falsidade. Ele é a vitima, e ela merece todo o castigo que
pode-se aplicar? Acho que sim. Ela me perturba tanto que ainda tenho duvidas
sobre tudo, até mesmo de quem sou.
Sabe quando vou voltar aquela casa que suas
aberturas batem como liberdade? Não voltarei até o dia em que, quando eu chegar
á porta, ela me chame, carinhosamente e diga que me ama, mas enquanto isso não
acontece, vejo os dois rapazes que chamei para mata-la, estão vindo, está tudo
como combinamos pelo telefone, eles estão chegando, mas será que essa foi a
minha melhor escolha?
Agora ela dorme na sua cama com tecidos de cor
branco e azul. Já me sinto arrependido, não quero mais isso, ou quero? Ah,
essas dúvidas, deve tudo ser culpa dela, sempre dela. Mas não quero mais que
ela se vá, e eu?! Ficarei sozinho, sem carinho?
Não, não quero mais nada disso estou arrependido,
vou correr para os seus braços agora, vou abraça-la, vou beija-la, vou dizer
que a amo e a perdoou apesar de tudo, mas isso também é culpa dela, mas,
infelizmente agora não há mais jeito.
E então aquele menino com olhos brilhantes seguiu a
correr de volta para sua casa, chorara, soluçava, correu até o quarto da mãe,
abriu e como porta de liberdade, essa também ficou voando, com todo amor e
culpa, pulou na cama, abraçou a mãe e a acordou, mas os bandidos vinham rápidos,
entravam na casa, e iam em direção ao quarto, mas o tempo agora era curto para
dizer que te amo, me perdoa. Ela abriu os olhos calmos, ela sentada e ele ao
seu lado a abraçando, ele chorando, ela abrindo um sorriso e deixando suas
lagrimas derramando, pensava, - meu filho voltou, obrigado Senhor!
Mas ela só não imaginava o que seu menino já tinha
feito. Ela abraçando o seu filho,
acariciou sua face, pegou apertado em abraço, e mais uma vez o acariciou, não
falava nada, apenas sorria, e em meio à felicidade e culpa do filho, ela falou:
- Hoje chorei de saudade do meu menino, não sabia se voltaria, mas estava tão
esperançosa, ai você chega assim, e me abraça! Estou muito feliz, você não sabe
o quanto. Sabe o pão que você falou? Chegou! Vamos filho, sente-se comigo e
vamos comer o pão que mamãe comprou.
De forma inocente, era a forma que ela delicada
contava.
Mãe... Ele falou, mas agora sem tempo, os bandidos
já estão no quarto, olham os dois, procuram e reprocuram no olhar, qual de nós
ia matar. Sem saber ao certo, nos puxou da cama, e ao final delas, nos
marcaram, com um estilete, derramaram, derramaram o sangue em que me apoiei.
Foi o começo, um corte na bochecha em mim e um risco no queixo para ela.
Já estava tudo pago, mas estou arrependido, ele
pegou uma arma, o outro uma faca. E foi em questão de segundo que tudo se
apagava, ainda escutei as palavras de minha mãe dizendo:
-Por favor, senhor! Abaixe essa arma! Nós não
fizemos nada!
E tudo foi se apagando devagar, fico
imaginando, será que suas palavras, os fizeram mudar?
Jameson Brandão
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