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Um outro dia, que o próximo seja o agora (conto)

Jameson Brandão 

Hoje está chovendo. Está um frio tão gostoso, e eu aqui em casa a tomar do café de minha mãe e me deleitar nos sonhos que o calor da minha cama e rédea de meu cobertor me deixa vivíssimos para o outro dia. Mas custo a imaginar eu e o mundo. Lembro-me quando viajei de ônibus, estava um dia como hoje, chovendo, fazendo um frio parecido com este, só não era este porque a sensação gostosa da viajem não me deixava perceber. De dentro do ônibus ou de dentro de casa, sinto-me aquecido. Mas mesmo com tanta mordomia, mordomia essa não de luxo, mas sim o de ter ao mínimo a casa onde se abrigar e o cobertor para se embrulhar. A rua está cheia de maldade, se estou em casa não a vejo, pela janela dos ônibus, só um pouquinho. A realidade é mais do que isso, estou no conforto do meu lar, do anto dos amigos da família, e hoje, porque hoje? Porque não antes do hoje? Em outrora talvez! Não, não em outrora ou no futuro, quero viver e sentir como eles sentem, aqui hoje e agora no presente. Se caso eu vagar pela cidade, sei que vou encontrar, na verdade já enxerguei tanto que parei de sentir, de ver, simplesmente desapareceram. Estes não eram bichos, lixos, ratos ou baratas, é gente como a gente, mas gente que precisa de outra gente. Ignorei por tanto tempo que agora me sinto o lixo, lixo não reutilizável, perigo. O mundo não pede socorro, nunca pediu, nós pedimos socorros uns aos outros e somos ignorados ou tratados como ratos. Só o olhar de pena não resolve, estou querendo ouvir, vão me chamar de louco, dizer que é perigoso, mas preciso ouvir, tenho que tirar os protetores de ouvidos que me puseram, só assim serei livre e feliz, ou chorarei quando eu ouvi. Casa? Que casa? Essas vão ser indagações que levarão a pensar, eu e eles a chorar, ou simplesmente escrever. Cada um com sua dor, sua historia de vida, suas lutas diárias pelo pão, pelo cobertor, por sobreviver. Viver sem ameaças dos “patrícios”, dormir e saber que pode acordar e não morto por pedradas na cabeça ao cérebro se expor no meio da rua, mas se for de morrer, que não seja assim tão cruel, pelo frio, pela faca, pela arma de fogo crua, por qualquer coisa que o homem criou. Mas que seja assim, tão bonito, a cear na felicidade, ter o respeito, está em harmonia com a vida, e ter um lugar quentinho, com cama e cobertor, uma pessoa a fazer o café, ter um lugar para assim dizer, agora tenho casa, agora tenho realmente uma família. Assim, esquecer das dores do passado, não para não melhorar, mas sim, para limpar o coração de toda dor e rancor que nele possa assim, existir.  
Hoje é 30/06/2016 e estou salivando pelo que vou descobrir, a arma da vida é a nossa própria mente. A arma da criminalidade são as mentes cheias de luxo. A arma do luxo são tiros de prata com arma de ouro na cabeça de qualquer um, qualquer um que se sucumba.

30/06/2016

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