Jameson Brandão
Quase nasci em berço de ouro, mas foi graças a Xoxô, que estou aqui. Xoxô é um cachorro que vive comigo até hoje, depois do que passei somos inseparáveis. É meu melhor amigo.
Não me lembro bem, mas sei que foi assim.
Certo dia andava ao vagabo pelas ruas da cidade. Sentia o frio me tomar incontrolavelmente, meus dentes batiam, rangiam, mas eu continuava andando por ali. Meus olhos estavam quase fechados, o amarelo descia pelo olho escorrendo gelado. Mas nunca parei de prosseguir, sabia que a minha frente o calor dos braços de meus pais iria encontrar, sentir o seu abraço, quentinho! Suas mãos acariciando minha face, e o melhor, sentir em meu coração que eles me chamam de filha. Venha filha, entre! Assim pensava enquanto andava. Sempre tentando imaginar as suas faces e até brincar com meu irmão e o cachorro que devia estar em casa. Mas foi por esses caminhos que tanto ando, que lateja em meu pé o calo, as bolhas de sangue que chora em favor de aliviar a dor, que naquela noite, devia ser umas 2h30min da madrugada quando avistei. Me senti tão feliz quando vi eles dois, na verdade os três.
- Pai, pai... gritava alegremente enquanto corria para seus braços.
- Saia daqui monte de estrume! Dizia o homem enquanto me deferia um soco no rosto.
Naquele momento cai ao meio da rua, foi quando veio um carro e passou por cima de mim. Ainda bem que eu fiquei quietinha, e o carro não me atropelou, mas pude ver os pneus, sentir o seu cheiro de borracha queimada, e até mesmo os batimentos do coração do motorista. Na verdade, era uma mulher quando saiu do veículo, aí ela veio desesperada em minha direção. Eu estava toda estirada no chão com o rosto virado para o asfalto, ela me pegou com tanto cuidado, aí sim pensei que ela era mãe, mãe que eu não tive, mas queria naquele momento. Ela virou meu rosto para o dela e viu as marcas, meu olho afundado e com os cortes da areia do asfalto. Ela logo me abraçou bem apertado.
- Vai ficar tudo bem. Dizia ela com seu perfume a adentrar as minhas narinas, era um paraíso para mim, me senti no céu, ali meu coração retornou de alegria. Ela sim podia ser minha mãe, não aquele maldito que me socou na face. Xoxô tudo avistava, era manso, mas se achegou e começou a nos lamber.
- Ah, coração, quanto de amor tu suportas! Acho que foi Xoxô que falou, pois não me lembrava de ter ouvido aquela voz naqueles momentos.
O cara que por um momento eu tinha chamado de pai, fez eu me sentir mais sozinha. Estava tão sozinha a espera de meus pais que comecei a delirar nos caminhos da madrugada.
A moça alta, de cabelos cacheados, pele igual a minha! Se levantou e foi na direção do homem, ela tinha me deixado sentada na calçada.
- Ei, porque fez isso? Eu vi você empurrando a garota! Vou ligar para a polícia. Dizia a moça bela, em tom ameaçador, como se estivesse revoltada.
Mas não era para ela fazer aquilo, era para somente me levar para casa, me colocar em uma cama, contar uma historinha para mim, me dar o beijo de boa noite e dormimos. Mas ela fez tudo errado, tudo diferente, e xoxô via tudo, ele é calmo e não faz mal para ninguém. Dormimos juntos, já que a noite aqui na rua é muito frio.
O homem que eu nunca tinha visto puxou de dentro da roupa uma arma, apontou para a mulher e...
- Não! Não! Gritei em um único espasmo, gritei. Mas tinha de correr, e comecei, até que ele apontou a arma para mim e feriu minha perna. É acho que foi só a perna.
Não tinha para quem recorrer, mas xoxô quando escutou o barulho do tiro, pulou no braço do homem. Mas xoxô também fez tudo errado, pegou no braço errado, e aí o homem novamente me tirou quem eu amava. Talvez, não tinha certeza de mais nada, mas que no frio da madrugada podia ser o caminho para a felicidade.
- Faremos o possível para ajuda-los, mas ei, ei, olhe para mim, não durma! Não durma! Dizia o homem da ambulância, acho que era ele, pois já não conseguia escutar direito as coisas, mas só que antes do tiro, no carro da moça, e na lixeira da rua, escutava-se choros, e choros, devia ser as almas puras sentindo a solidão que senti.
Quase nasci em berço de ouro, mas foi graças a Xoxô, que estou aqui. Xoxô é um cachorro que vive comigo até hoje, depois do que passei somos inseparáveis. É meu melhor amigo.
Não me lembro bem, mas sei que foi assim.
Certo dia andava ao vagabo pelas ruas da cidade. Sentia o frio me tomar incontrolavelmente, meus dentes batiam, rangiam, mas eu continuava andando por ali. Meus olhos estavam quase fechados, o amarelo descia pelo olho escorrendo gelado. Mas nunca parei de prosseguir, sabia que a minha frente o calor dos braços de meus pais iria encontrar, sentir o seu abraço, quentinho! Suas mãos acariciando minha face, e o melhor, sentir em meu coração que eles me chamam de filha. Venha filha, entre! Assim pensava enquanto andava. Sempre tentando imaginar as suas faces e até brincar com meu irmão e o cachorro que devia estar em casa. Mas foi por esses caminhos que tanto ando, que lateja em meu pé o calo, as bolhas de sangue que chora em favor de aliviar a dor, que naquela noite, devia ser umas 2h30min da madrugada quando avistei. Me senti tão feliz quando vi eles dois, na verdade os três.
- Pai, pai... gritava alegremente enquanto corria para seus braços.
- Saia daqui monte de estrume! Dizia o homem enquanto me deferia um soco no rosto.
Naquele momento cai ao meio da rua, foi quando veio um carro e passou por cima de mim. Ainda bem que eu fiquei quietinha, e o carro não me atropelou, mas pude ver os pneus, sentir o seu cheiro de borracha queimada, e até mesmo os batimentos do coração do motorista. Na verdade, era uma mulher quando saiu do veículo, aí ela veio desesperada em minha direção. Eu estava toda estirada no chão com o rosto virado para o asfalto, ela me pegou com tanto cuidado, aí sim pensei que ela era mãe, mãe que eu não tive, mas queria naquele momento. Ela virou meu rosto para o dela e viu as marcas, meu olho afundado e com os cortes da areia do asfalto. Ela logo me abraçou bem apertado.
- Vai ficar tudo bem. Dizia ela com seu perfume a adentrar as minhas narinas, era um paraíso para mim, me senti no céu, ali meu coração retornou de alegria. Ela sim podia ser minha mãe, não aquele maldito que me socou na face. Xoxô tudo avistava, era manso, mas se achegou e começou a nos lamber.
- Ah, coração, quanto de amor tu suportas! Acho que foi Xoxô que falou, pois não me lembrava de ter ouvido aquela voz naqueles momentos.
O cara que por um momento eu tinha chamado de pai, fez eu me sentir mais sozinha. Estava tão sozinha a espera de meus pais que comecei a delirar nos caminhos da madrugada.
A moça alta, de cabelos cacheados, pele igual a minha! Se levantou e foi na direção do homem, ela tinha me deixado sentada na calçada.
- Ei, porque fez isso? Eu vi você empurrando a garota! Vou ligar para a polícia. Dizia a moça bela, em tom ameaçador, como se estivesse revoltada.
Mas não era para ela fazer aquilo, era para somente me levar para casa, me colocar em uma cama, contar uma historinha para mim, me dar o beijo de boa noite e dormimos. Mas ela fez tudo errado, tudo diferente, e xoxô via tudo, ele é calmo e não faz mal para ninguém. Dormimos juntos, já que a noite aqui na rua é muito frio.
O homem que eu nunca tinha visto puxou de dentro da roupa uma arma, apontou para a mulher e...
- Não! Não! Gritei em um único espasmo, gritei. Mas tinha de correr, e comecei, até que ele apontou a arma para mim e feriu minha perna. É acho que foi só a perna.
Não tinha para quem recorrer, mas xoxô quando escutou o barulho do tiro, pulou no braço do homem. Mas xoxô também fez tudo errado, pegou no braço errado, e aí o homem novamente me tirou quem eu amava. Talvez, não tinha certeza de mais nada, mas que no frio da madrugada podia ser o caminho para a felicidade.
- Faremos o possível para ajuda-los, mas ei, ei, olhe para mim, não durma! Não durma! Dizia o homem da ambulância, acho que era ele, pois já não conseguia escutar direito as coisas, mas só que antes do tiro, no carro da moça, e na lixeira da rua, escutava-se choros, e choros, devia ser as almas puras sentindo a solidão que senti.
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