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Café de sorrisos (conto)

                                                                Jameson Brandão

Era quase cinco horas. E eu me abstive do café de minha mãe, mas pense comigo! Café de mãe é sagrado e eu deixava ela naquela manhã. Muitos podiam até me perguntar o porquê daquilo, ou o porquê daquilo outro. Mas minhas palavras eram brandas, afável até no goto do goto das intimidades. Aquilo era confuso para o mundo, não entendiam o que eu sentia, respirava, dançava na valsa da vida, mas continuei a prosseguir, a olhar, porquê já não falava mais nada, aliás eu não falava, aí todos aproveitavam e faziam da minha sina uma vara com anzol jogada ao esgoto morto muco porco.
- Como não tomar o café pela manhã? Me perguntavam e indagavam sugestas percebidas. E eu continuava sem fala, era como se o apocalipse chegasse naquele momento. ­
- Imundo! Louco! Assassino! Morte ao inimigo que está debaixo do próprio teto da mãe. Diziam como cobras ao ar de dar o bote.
Mas a minha querida mãe ainda dormia, o café nem foi o dela ou foi? Tenho minhas dúvidas, eles acordaram primeiro que eu, talvez fossem eles ou talvez fosse minha mãe em seus costumes das quatro horas. Sempre acordando mais cedo que a gente. Lembro-me do gosto do seu café. Quando colocava os primeiros goles a tocar nos lábios, de mim o mundo se desvairava e o cantar ao seu lado, dançar com ela, era o que sempre me alegrava, mas estou marcado como marquei. O café podia ser perdoado, eu não. Em suas bocas salivavam a textura e cheiro do nicho do sangue, era chegado o momento esperado. Não falava, não mexia, não agia, nem piscava, as nuvens negras faziam minha companhia.
Foi em uma única truculência, o som estalou na sala vazia e o ar me matava aos poucos, eu estava caído ao canto da sala, mas parecia tudo redondo, não tinha como pegar nas paredes, ou era madeira? Não sei como foi, mas tudo estava escuro, forças eram minhas inimigas, não levantava. Talvez com isso não tomo mais café, mas o chá do velório de minha amada.    

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